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Coração Satânico

Poucos filmes do gênero conseguiram uma atmosfera e um visual tão sombrio, sujo e carregado, com uma paisagem quase sempre cinzenta e chuvosa, quanto “Coração Satânico” (Angel Heart, EUA, 1987). Isso de cara torna o filme irresistível. Há aqui um ambiente que, mais do que apropriado para enaltecer a o clima de suspense e mistério da trama, tornam ainda mais críveis e envolventes a caracterização dos personagens. Temos um Mickey Rourke fazendo um detetive particular fracassado, desleixado, metido em roupas folgadas que parecem ter sido do avô gordo dele. E uma misteriosa e sinistra figura, interpretada de forma simplesmente sensacional pelo Robert DeNiro antes da decadencia artística dos anos de 1990, surge no caminho desse detetive e o contrata para localizar um homem, do qual é credor, e que simplesmente desapareceu durante a Segunda Guerra ao voltar para casa sem deixar vestígios.

O sinistro cliente e o mal-arrumado detetive: nesse mato tem coelho.

Tem início então uma atordoante peregrinação que levará nosso herói aos confins rurais de uma Louisiana quente, misteriosa, hostil. Onde cada vez mais ele afundará numa trama labiríntica, sensual e sobrenatural. Entram em cena aqui elementos sensacionais do grafismo estético dos filmes noir. A loira misteriosa, a dupla de policiais locais que vigiará de perto nosso detetive (pois pessoas que cruzam o caminho dele começar a morrer de forma violenta e inexplicada). E o que dizer da introdução na trama de elementos ritualísticos de magia negra, protagonizados por uma eletrizante e sensual adolescente negra que tira nosso herói do sério? Realmente, Coração Satânico é um filme incomum!

Nos confins da Louisiana, o herói querendo "aprofundar" as investigações.

Em termos gerais, entretanto, fica evidente certa modéstia do filme. Ele não é tão denso e assustador quanto poderia (ou quanto pretenderia ser). Nem tão violento ou tenso. Parece se deter mais no seu aspecto visual e estilístico; em criar somente um clima, uma imagem. Não é à toa que possui aquele tom romântico das investigações improváveis e solitárias. Coração satânico, em suma, parece uma excelente HQ filmada. O que, convenhamos, não é pouco.

Filme tem visual impecável. Ambiente sombrio, solitário e chuvoso.

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  1. 15/03/2010 às 23:32

    Adoro esse filme, Fidani. Deve ser o melhor Alan Parker, na minha opinião… gosto bastante também de O Expresso da Meia Noite e Asas da Liberdade (pouco lembrado e mal falado), mas este aqui realmente me deixou sem chão. Não é o melhor filme do mundo, mas é um trabalho intrigante, bem melhor do que muita coisa feita hoje.

    Sobre o De Niro e seu declínio nos anos 90, eu concordo plenamente, mas acho que ainda nesta década ele teve interpretações surpreendentes, como em Os Bons Companheiros, Cabo do Medo, Cassino, Fogo Contra Fogo e Jackie Brown, quando fez, talvez, seu último personagem antes de cair de vez no buraco.

    • 16/03/2010 às 17:15

      Concordo, Herax. Tinha esquecido que ele fez sim bons filmes nos anos 90. Realmente em cabo do medo ele está fantástico! Sobre Alan parker o que me diz de Mississipi em Chamas? Thriller eletrizante, não? Não entendo como um diretor faz tantos ótimos filmes numa década (no caso dele na de 80) e depois decai tanto…

      • perrone
        16/03/2010 às 23:51

        Herax, não… Perrone, hehe.

        Mississipi também é um bom filme. Willen Dafoe está ótimo! E o Hackman nem se fala…

  2. 15/03/2010 às 23:36

    Filme fodástico! Lembro que fiquei apaixonado pela Lisa Bonet quando assisti o filme, há mil anos. Estou louco pra rever. O final é atordoante.

    • 16/03/2010 às 17:17

      Hahaha. Sabia que você não ia deixar passar essa! Ninguem sai impune à visão de Lisa Bonet nessa película. Mas eu te cubro de razão, claro.

  3. 17/03/2010 às 19:12

    A primeira vez que vi esse filme foi num cineminha poeirento na minha cidade natal, foi num domingo de tarde e eu tinha 13 anos! Uma das experências mais marcantes da minha vida! Me lembro até hoje como a mistura de film noir comn terror me deixou embasbacado! Um dos meus filmes preferidos dos anos 80!

    • 17/03/2010 às 19:44

      Pensando bem, de fato é uma mistura insólita: NOIR com TERROR! E não me canso de admirar, como comentei na resenha, o incrivel visual do filme, o seu grafismo exuberante de HQ! E que clima, amigo, que clima!!!

  4. 22/03/2010 às 02:05

    Isso sem falar da trilha sonora fantástica. aquele “jazzinho” charmoso e sujo, extremamente condizente com o clima do filme. Não se fazem obras assim atualmente…

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