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A Morte Não Manda Recado

A princípio somos levados a acreditar que estamos diante de uma variação muito fiel do genêro Western Spaghetti, o qual, como se sabe, teve uma renovadora e decisiva influência sobre o cinema vigoroso do notável Sam Peckinpah. Pois lá estão a paisagem árida do deserto, a tempestade de areia, um homem cruel e traiçoeiramente abadonado nessa paisagem hostil por 2 de seus companheiros. E a vingança (mote de 9 entre 10 Westerns Spaghetti) contra esse ato covarde será o gancho central que norteará a narrativa.

Porém, a ilusão logo se dissipa. E nos detalhes – em tal e qual encenação, em diálogos equivocados, pueris – é que, no conjunto, o filme se perde. E quando se pretende comédia, ou comédia romântica, então a coisa desanda de vez. Fica-se a se perguntar: como o grande Sam peckinpah se prestou a isso? Certamente foi engolido pela falta de identidade de um filme que mais do que ingênuo no tom e na atmosfera, torna-se no seu desenrolar simplório e boboca. Em suma, “A morte não manda recado” (The ballad of Cable Houge, EUA, 1970) pertence àquela categoria de filmes que, vindo de onde vem (isto é, de um grande diretor), são tão ruins que chegam a constranger quem assite. Àquela categoria de filmes que conseguem nos surpreender com incongruências as mais disparatadas possíveis, seja num diálogo ou cena capital, seja no destino dado a determinado personagem. Um filme que gradativamente vai se tornando pior que os minutos precedentes. O que pode tanto surpreender quanto irritar.

Entretanto é um filme a que se assiste! Aqui e ali desde o começo, e apesar de tudo, percebe-se certa ingenuidade e pureza na caracterização dos personagens, certa moralidade utópica, que de alguma forma seduzem. Possui um quê nostálgico de Sessão da Tarde juvenil perdida no tempo. Há a poesia e a beleza do deserto.  Há a poesia e a ilusão do amor puro e romântico entre o explorador vagabundo e a bela prostituta. Há o sonho de uma vida melhor para os combalidos personagens. Há a remissão e a boa ação na hora do esperado acerto de contas no epílogo. Todavia, é no ordenamento e orquestração desses elementos como narrativa que a construção se mostra equivocada, frouxa, absurdamente inverossímil e inacreditavelmente sem graça, apesar de certa intenção nesse sentido. Vale como curiosidade. Para constatar como um roteiro cinematográfico e seus respectivos diálogos podem ser tão ruins.

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  1. 10/04/2010 às 17:48

    Eu acho esse filme excelente!

  2. 10/04/2010 às 21:32

    Acontece que em comparação ao outros filmes do homem… Esse perde feio. O parâmetro que uso é esse. O negócio dele é violência e humor negro. Aqui ele tentou algo completamente diferente. Gosto do Peckinpah de Meu ódio será sua herança e Tragam-me a Cabeça de Alfredo Garcia.

    • perrone
      10/04/2010 às 22:40

      É, cada pessoa utiliza o parâmetro que quiser… hehe
      E respeito o gosto de cada um.
      Eu, por exemplo, analiso cada filme independentemente, se é bom ou ruim e suas variações. Claro que nomes de diretores, atores, roteiristas, etc também conta, mas não chega a me influenciar.
      No caso deste aqui, se Peckinpah tivesse realizado apenas A morte não manda recado, teria feito um bom filme, já dentro da filmografia dele é um trabalho menor, na minha opinião, mas nunca diria que é um filme ruim.

      • Davi OP
        10/04/2010 às 22:46

        Perrone, acho que os filmes mais fracos do Peckinpah são “Os Parceiros da Morte”, “Dez Segundos de Perigo” (que é ótimo), “Comboio” (que é fraco, mesmo) e “O Casal Osterman” (que é recheado de boas idéias). Ainda não vi “Elite de Assassinos”, mas pretendo corrigir isto em breve. É o único Peckinpah que ainda não assisti.

  3. Davi OP
    10/04/2010 às 22:16

    Deus me livre um diretor fazer algo diferente! Acho um dos grandes filmes do Peckinpah. Completamente diferente do restante da sua filmografia. Vi pela primeira vez recentemente e me surpreendeu a leveza, os caminhos pouco óbvios que ele toma.

  4. caiolefou
    11/04/2010 às 18:51

    Peckinpah é meu segundo diretor favorito e esse filme é genial, como uns outros dez que ele fez. hehe

    P.S.: Ainda não vi ‘filme mais fracos’ dele, e até “Parceiros da Morte” acho bem bom. Falta “O Casal Osterman” e “Elite de Assassinos” pra mim.

  5. 12/04/2010 às 14:32

    Concordo com o Perrone, os filmes devem ser avaliados independentemente. E nunca comparados uns com os outros, pois tudo depende de roteiro produção e atores. Só o diretor não consegue sustentar um filme. Quando começar ver as obras menores do Fulci, vai ficar abismado de como são ruins.
    Ao meu ver não podemos utilizar como parametro se tal ator esta no filme, a trilha sonara é do fulano e fotografia do ciclano, pois tem muita coisa que surpreende.
    Particularmente acho The ballad of Cable Houge um filme ótimo e divertido.

  6. 12/04/2010 às 18:46

    Nossa, será que assistimos ao mesmo filme, pessoal? Hahahaha. E eu que supunha compreender o cinema do Peckinpah agora fiquei em crise, com sérias dúvidas. Não quero saber dele tão cedo.

  7. 19/12/2011 às 05:42

    Acho este filme maravilhoso, é Sam Peckinpah teorizando sobre o fim dos tempos do velhos oeste, “The Ballad of Cable Hogue” tem um final maravilhoso, onde o velho pistoleiro do oeste é, literalmente, atropelado pela modernização. Peckinpah estava teorizando sobre o adeus dos pistoleiros. É um dos meus preferidos dele, junto de “Meu Ódio Será sua herança”, “Sob o Domínio do Medo” e “Tragam-me a Cabeça de Alfredo Garcia”.
    Petter Baiestorf.

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